sexta-feira, 1 de agosto de 2014

IMORTAL, A ORIGEM DO TEMPO, por Leo Pajé e Rodrigo Sansão

A origem do tempo

Capítulo I - começando pelo fim

Kud, imortal com medo da morte, morre de tédio.

Estes são seus primeiros e conhecidos anos, pois ninguém sabe exatamente de onde veio, e desde quando passeia pela história. Há uma tristeza disfarçada de coragem suicida em seus olhos, e isto o liberta das responsabilidades do homem comum, quais sejam, retribuir, sorrir, pensar além do próximo passo e, no fim, lamentar as possibilidades perdidas pois, o tempo não existe para ele...tudo pode ser feito...seja agora...seja amanhã...seja quando...pois, o tempo não existe.

Há um lar sem paredes descoberto a pouco tempo, onde o vasto campo, ou deserto, ou sal, se confunde com o horizonte e engana os mais e os menos desavisados. Há incoerência no frio que queima no deserto de sal. Não é liberdade nem prisão, não é o limite nem infinito, é só areia temperada, sal, mar e terra. A mesma que engole corpos desligados, sementes latentes, e vomita brotos nutritivos e purificantes para os devoradores de ar.

Kud pensa que seu nome é um anagrama limitado. Um soluço ou espirro soariam mais sentido, mais lógica que sua curta alcunha. Tinham pena do tamanho de seus pés, que desequilibravam sua anarquia e pendiam seu colo contra seu umbigo, algo imensamente desconfortável para um homem com o tamanho médio de 10% da humanidade.

De baixo de seu calado cúmplice, um giz preto torrado pelo raio a poucos dias, descreve o tédio dos dias úteis, que para ele não carecem de nome algum. Para Kud, a diferença não está no batismo dos dias, meses, semanas, números e números cardinalmente dispostos e cantados há tempos pela humanidade. Para Kud, importa a temperatura, a velocidade do vento, a umidade da nuvem, se vai chorar turbilhões descolorindo seu céu e sua areia, ou se o azul minimalista vai dar as caras.



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