terça-feira, 12 de agosto de 2008

DÓ PARA MAIORES

De um lado um caso mal começado, do outro uma calçada lotada de areia, e um nenêm gigante brincando de caverna do dragão. É uma cena para moldar qualquer quadro dramático da rotina sem graça do brasileirinho. A mãe descansa os ossos na geléia caseira enquanto o pai finge ser estudioso e planeja um futuro mágico que só ele poderia. É a miséria a flor da pele, e a dor rouca de uma lide passional arranhando o presente. Daqui a pouco vão dizer que não ouviram o sussurro de socorro disfarçado de riso. Não tem violancelo que comova os olhos desidratados da má vontade. Só frases feitas ao avesso e pensadas às prévias do parto.
I luv u Liv, forever and ever, dont matter what happen, 'till the end, I used to wonder what u make to my body. I always wonder what do whit this thoughts...now I know. Write no sense.
Há ovos de páscoa nesse texto, bem digo.
Detalhe, essa é uma das únicas chances de ser pato nessa página.

RADIOHEAD, A CONTRADIÇÃO DA UNANIMIDADE

O Radiohead lançou coletânea oficial. Num primeiro instante, decepção, depois, ‘matutando’ um pouco, compreensão. Foi estranho ver a unanimidade mundial (ao lado de Björk, Bono, Bozo) ceder aos apelos comerciais.
Arrisco expor o valor de cada aspecto relacionado a este tipo de álbum.
Durante passeio no principal centro consumista da cidade, me deparei com o álbum novo do Radiohead. ‘The best of’. Sempre achei apelação comercial qualquer coletânea de artista ativo. Considerava compilação justificável quando de artistas inativos ou obras póstumas. Se estivessem extintos seria obrigação das gravadoras lançarem coletâneas a fim de perpetuar a obra e facilitar ao público o acesso ao artista.
Ainda, considerava exceção de criatividade quando um artista buscava respirar o ar rarefeito da fama apurando novos fãs através de coletâneas.
Na contra-capa da coletânea do Radiohead, a frase batida: ‘incluindo o hit Fake Plastic Trees’. A canção se tornou hit no Brasil quando ilustrou comercial de TV, dramático e muito simpático. Hoje, dentre o público leigo, Radiohead ainda é considerada a banda melosa da ‘música do comercial’.
O risco desta forma de marketing - coletâneas - é popularizar demais apenas parte da obra, tornando banal algumas canções e ofuscando outras, arriscando minimizar o som da banda, o que alimenta a crítica e torna simples o talento do artista. Segundo a máxima da crítica, o que é popular é ruim.
O exagero de tal princípio é evidente. Há a má vontade da mídia em elogiar a cultura popular, pois, no geral, o público não cobra qualidade nem criatividade, engolindo tudo o que a mídia empurra. Mas à mesma crítica cabe o papel de auditor da arte. Dos braços da mídia vêm o afago e a bordoada.
O que conta realmente é a minoria de fãs críticos que mastigam cada letra e melodia antes de saciar tua gula.
No Brasil, Radiohead não é banda que polui rádios e tampouco inspira bandas cover em pubs por aí. A coletânea pode mudar isso, pois facilita a vida do público preguiçoso.
O álbum é justificável, pois, a melhor forma de conhecer a obra de um artista é observar as melhores. Fica mais fácil cativar o público através de canções selecionadas e prontas para o consumo. Colocar no prato canções como Myxomatosis ou a declamada Fiftter Happier seria de difícil digestão.
Confesso não ter gostado de imaginar Thom Yorke, vocalista do Radiohead, selecionando canções para uma coletânea. Isto não se parece com ele. Thom Yorke é um Bono Vox, vocalista do U2, melhorado, menos pop, menos estrela e consciência crítica e social sincera. Bono é uma estrela pop que usa causas sociais como arma de publicidade pessoal e de sua banda.
Ainda em relação à coletânea do Radiohead, não há como criticar composições já lançadas, apenas a forma e a seleção feita. Pense no trabalho intenso do produtor e músicos ao ter que escolher apenas duas ou três músicas do álbum ‘The Bends’, considerado um dos melhores de todos os tempos.
De resto, vale pela pérola ‘Talk Show Host’, ‘b side’ lançada oficialmente apenas na trilha sonora do filme Romeu & Julieta, 1996. No mais, vale a pena pela beleza sonora do álbum e como tralha de colecionador.
Rodrigo Resende

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Fuga do acaso

Recentemente recebi da sorte a dor do acidente, e seus prejuízos.
O termo acidente compreende algo casual e inesperado. Na minha concepção, a reiteração do mesmo erro que finda na dor de um ferimento desnecessário foge do significado do termo 'acidente'.
Machuquei a perna num acidente de moto. Não cuidei do ferimento e ele inflamou. Fui sair do carro e bati a perna bem no local machucado. Fui entrar em casa em bati novamente. Ufa...isso foge do acaso, e invade a lógica natural dos fatos, se torna previsível, pois ao causar o primeiro acidente, eu despertei a cadeia natural dos desastres que terminam no momento em que percebo onde erro.
Assim, o ferimento inicial era previsível e o esforço para mantê-lo cada vez pior também, já que, apesar de taxado de acidente, aconteceu por minha exclusiva culpa, sem provocação de ninguém, e reiterou-se pela desatenção.
Mais cuidado quando se machucar Rodrigo.
Rodrigo Resende

A CASA MALFEITA DA CULTURA

Não sou arquiteto nem engenheiro civil, mas ouso criticar o que me salta aos olhos. Em 2002, o governo do DF resolveu continuar obras originais do projeto Piloto de Brasília. Faltavam, dentre outros, a construção da Praça da Cultura, localizada entre a rodoviária e a Esplanada dos Ministérios. Daí, de repente, na boca do sapo nasce um dente, e 6 anos depois, durante visita breve e apressada, vejo a praça da Cultura tatuada na cidade. Estão ali a Biblioteca Nacional e Observatório (bolha pálida gigante com arco panorâmico sobre a praça).
Apesar de opinião batida, pois tudo já foi exposto a respeito deste projeto e sei que não trago opinião inédita, eis meu ponto de vista. Impossível ficar passivo diante da grandiosidade, beleza, e ineditismo do projeto piloto. A cidade é a materialização da boa vontade e ousadia de um cidadão acima de seu tempo e flagelado com defeitos reluzentes, homem fundado na filosofia do ‘faça a todo custo’. Imaginem sacos de cimento trazidos às pressas por aviões. Exagero organizado, efeitos sentidos até hoje, ou melhor, ontem, pois a dívida foi finalmente paga.
Atualmente, existem projetos gigantescos de construção de cidades sistematicamente organizadas, quais sejam: ilhas no oriente médio, paraísos auto-sustentáveis, e tudo mais. Brasília foi uma das primeiras obras do gênero no Brasil e exemplo mundial. Algumas cidades, dezenas de anos mais velhas, não possuem estrutura minimamente próxima a da capital federal.
Projetos estruturais deveriam ser regra em planos de governo, vide a organização numerada de cidades médias tais como Araraquara e Sertãozinho, no interior de São Paulo, e Nova Ponte, no Triângulo Mineiro. Estas cidades sofreram correções e remodelamentos que trouxeram, principalmente, organização e dinamismo ao trânsito local.
Mas o que lastreia a crítica à nova construção? Comparada às obras originais, feitas nos anos 60 sob a supervisão cerrada de JK e respeito cru ao projeto de Niemeyer, se nota que os artistas atuais não apuraram a técnica centenária do velho arquiteto e nem tiveram supervisor da linhagem de JK.
Não cabe aqui criticar, ainda, a falta de zelo do arquiteto quanto ao calor do cerrado e ventilação dos prédios, nem a dívida findada apenas 50 anos depois.
A beleza lisa do concreto da cidade não brotou nas novas obras. O arco do observatório é claramente torto, quase ridículo, e levemente inclinado. Não fui cuidadoso o suficiente a ponto conferir o projeto original e analisar a fidelidade da obra atual ao projeto histórico mas tenho certeza que, observado os contornos das construções sessentistas, as obras atuais deveriam ter curvas mais suaves e exatas.
A biblioteca nacional perece sob o mesmo descuido da outra obra, com arcos agressivos e cores que maldizem o resto do eixo monumental.
O que há nas duas novas obras é tamanho, magnitude, e só isso. Não há a beleza cuidadosa dos prédios prediletos da capital.
Falo como mero cidadão crítico que admira a beleza da cidade e lamenta cicatrizes num centro de poder e cultura do país.
Rodrigo Resende

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Muse no Brasil. Por que eles vieram?

Neste fim de mês de julho e início de agosto a América Latina foi agraciada com uma das melhores bandas do mundo na atualidade, Muse (veja parte do show aqui). Maiores do mundo...quantas o são? Poucas, na minha opinião. Fora os ícones setentistas, poucas são as bandas que perduram no auge por mais de 10 anos e que podem se considerar grandes, formadoras de opinião e influentes na cultura. Foi o máximo quando os Arctic Monkeys surgiram e disseram ter influência de Strokes. Como assim? O Strokes é uma banda recente, com menos de 10 anos e apenas 4 álbuns lançados, e mesmo assim ousam influenciar alguém. O Radiohead já está no 8º álbum e tem 18 anos de estrada. Bandas novas influenciando outras. Sinais da difusão cultural contemporânea e ignorancia em relação as bandas antigas. Ainda mais, o rock dos Strokes, reacendendo a cena gritada, desafinada, bem tocada e criativa.
Fui pego de surpresa no início do mês de julho com a notícia da vinda do Muse ao Brasil. Não hesitei e sacrifiquei o que foi preciso para ir a um dos shows. Sacrifiquei até o que não podia, o que poderia fazer o show não valer a pena. Mas valeu. Foi terrível o conflito entre entusiasmo e o bom senso, mas a impulsividade venceu e os três dias em Brasília serão contados como se fossem 20 no futuro.
O show foi tudo o que se esperava: intenso. Público totalmente passivo, cantando cada frase e entregue desde o primeiro suspiro do Matthew (vocal) no aeroporto do Rio de Janeiro.
O show de Brasília deveria ser o menos expressivo, já que era atração de um festival e não de um grande show. Mas não foi bem assim. A produção foi exata e o 'playlist' para feito afim de que fãs recentes conseguissem acompanhar o show sem se sentir deslocado, ou seja, nada de ‘b-sides’, nem mesmo a clássica ‘Cant take my eyes off of you’, já em versão eternizada pelo Muse. Foram cerca de 20 canções, intervalo curto entre uma e outra (infelizmente) entusiasmo cativante dos integrantes, perfeição quase irritante. A platéia passional não via razão para nada além de gritos e refrões desafinados. Ousei alcançar o tom do Matthew e fiquei sem voz na quinta canção. Hipnotizava a dança ‘heart attack’ e vocal thomyorkizado do Mat, enquanto Christopher (baixo) tocava palhetado para preencher o som nutrido apenas por uma guitarra (nas mãos do Matthew), um baixo, uma batera (Dominic, o mais gente boa segundo o público), e um tecladista contratado no país para momentos de groove e eletrônicos. Som incrível para poucos integrantes. Era aguardada uma banda enorme, com caras escondidos no fundo do palco, samplers, backing vocals, etc. Mas nada disso. Eram apenas eles, 3 caras fazendo o que minha banda cover de ‘britpop’ pena para chegar perto.
O show foi tal como o melhor 'bootleg' que você puder encontrar, com o Dominic lendo um texto incompreensível em português e ainda, com este fã jogando uma camisa da seleção brasileira nós pés do Mat, que pegou e entregou para o Dom, que colocou sobre a batera. Momento de orgulho para mim. Droga, a camisa foi cara.
Para não soar passional demais, cabe críticas mínimas a um show perfeito. Faltou mais interação entre os músicos e o público, com pausas maiores entre as músicas afim de parafrasear carinho batido para o público, e ainda, faltou o batera arremessar as baquetas (e minha camisa de volta, snif). Só isso, coisas básicas que cativariam ainda mais o público.
O público insano gritava, se empurrava e cantava todo o tempo. Justificado, pois ouvir ao vivo canções magníficas como 'New Born' deixa maravilhado qualquer fã.
Detalhe, para sentir um pouco do que foi ficar no meio da galera, colado no palco, cantando o tempo todo, segue abaixo link de parte do show, pelos olhos do público.Só espero que o exemplo seja seguido e que a América Latina se torne parte do eixo de turnês de grandes e importantes bandas internacionais e que não tenhamos que nos deslumbrar a cada raro momento de contato com os ídolos gringos.
Rodrigo Resende

‘Shame mr. Yorke, shame.’

Antes de tudo, todos os textos serão impessoais, não citarei pessoas não públicas, pelo menos vou tentar. No mais, tudo o quanto for pessoal vai estar implícito e meus amigos e minha pétala vão sacar na hora.

Li certa vez sobre razões para o Radiohead não vir à América do Sul, enumeradas pelo próprio Thom Yorke, vocalista. Não vale nada citar, mas, assim mesmo, lá vão algumas: falta de público, pois a venda de discos na América do Sul é tímida se comparada aos índices europeus, americanos e asiáticos; excesso de despesa com transporte de pessoal e equipamento.
O Brasil é um paraíso apenas para passar férias. Os próprios integrantes do Radiohead já vieram a passeio ao Brasil. Por que não vir para shows. Pensem o seguinte. Um show do Radiohead no Hawaii, ou Bora Bora. É quase impossível, mas é possível passarem férias nesses lugares. E ir ao Japão a passeio, também é suspeito, mas a trabalho é muito mais compreensível. Eles consomem. Falta cativar o Radiohead a ponto de levarem o público latino a sério.
Basicamente, ‘eles’ não vêm porque não lhes é interessante divulgar a banda em lugares fora do eixo ‘mainstream’, Euro-Americano. Por vezes soaram rumores da vinda da banda a festivais diversos do Brasil e América Latina. O desinteresse da banda dificulta qualquer negociação.
Criada em 1989, o Radiohead passou ileso pela fase grunge dos anos 90 e evoluiu inesperada e ineditamente. Basta notar o som feito pela banda nos dias de hoje e o british punk do primeiro CD. Bandas como Pearl Jam, REM eu U2, pararam no tempo. É forçar a barra criticar tais bandas, eu sei, mas é impossível não sentir a diferença entre o estágio em que se encontra o Radiohead e o conservadorismo acomodado de outras bandas.
Hoje, após a vinda do Muse e as declarações do vocalista Mathew Bellamy é possível analisar melhor a afirmação de Thom Yorke. Se este não quis vir aqui pelo dispêndio e a ‘dita’ pouca expressão da banda aqui (fundado em impressão superfiocial), o Muse não hesitou e sacrificou a rentável maratona da turnê do novo CD (HAAARP live Wembley) pelos palcos tradicionais, e brindou o público latino, desde o México até o Brasil, passando por Chile, e até mesmo pela Colômbia de Uribe.
Vão dizer que há grandes shows internacionais aqui. Aham, tá, sei. Há o show do U2 gigante de dez em dez anos, um show do Aerosmith idem, Madonna faz mais de 15 anos que não desembarca aqui, até mesmo o ingrato Fab Moretti demorou para passear no limbo do pai de Julius Casablancas, vocalista do Strokes. Brasileiro nato, criado nos EEUU, veio ao Brasil em época fora da turnê de lançamento de álbum, o que denuncia a falta de interesse de divulgar o trabalho aqui.
Com exceção do Muse, e arriscando ser desmentido no futuro, não me recordo de outra banda internacional que incluiu América Latina em turnê de divulgação de disco.
Isso acontece devido, segundo Thom Yorke, ao pouco interesse consumista do público latino. Ele tem razão, mas o Muse pôde iniciar uma leve mudança de ponto de vista. Depois dos shows latinos, muitos vão ouvir falar do Muse pela América Latina, fãs ilibados prontos para ceder ao consumo, e ao que teus olhos e ouvidos degustaram.
Ops! De cara já lembrei de banda para me contradizer. O Red Hot Chilli Peppers está sempre por aqui quando em turnê mundial. O CD ‘Californication’ foi um sucesso no Brasil, vendendo mais de 200 mil cópias, venda comparada a cantores nacionais. Tratasse de lógica mercadológica de marketing bem feito. Isso não é exceção, e sim conseqüência do interesse da banda em difundir a turnê por todos os cantos do planeta, sem valorar demasiado mercados tradicionalmente consumistas.Para não fugir da crítica aos EEUU, basta notar o lixo cultural que brota de lá. Perdão a corrente hip hop, mas lista da Billboard americana é uma vergonha. Só tem rapper, e cantora teen com vozeirão gigante e corpos apetitosos. Ou seja, eles consomem tudo o que aparece, importando a pele da personalidade, sem digerir e aguçar o paladar musical. A cena européia se mostra um pouco mais exigente, o que favorece o surgimento de melhores bandas peneiradas nas fronteiras da Europa. Tenho certeza que muitos exemplos lhe saltam à mente neste momento, ou melhor.

MUSE NO BRASIL

Antes de mais nada..o desabafo dos integrantes do Muse durante entrevista a terrível roqueira Pitty (a desafinada)
Cabe colher a opinião do Mat - vocalista do Muse - quanto a shows fora do eixo Euro-EUA. (leia aqui a entrevista à Mtv)

Basicamente, Mat esclarece que não é rentável viagens para lugares como América do Sul e Ásia (exceto japão). O que vale no caso é a beleza do público orfão de grandes shows internacionais que prestem ao vivo, impregnados de euforia.

No mais, minha opinião vai fluir cada vez mais nesse blog de proveta.

Sucesso terráqueos e beijo a minha terráquea favorita.