sexta-feira, 13 de maio de 2016

Crítica filme #ninfabebê

trailer

O filme teve sua avant premiere neste último dia 12/05/16, em Uberaba-MG, parto de projeto aprovado e financiado parcialmente pela secretaria de cultura da cidade, dirigido, produzido e roterizado por Aldo Pedrosa, proeminente cineasta mineiro, debutando em longa metragem.

O retrato definitivo desta geração.

Com base na super exposição em redes sociais, ninfabebê tem ambições de se colocar no gênero de filmes de suspense/terror sérios no Brasil, ou pelo menos no âmbito regional donde foi produzido.

No elenco todos são debutantes na sétima arte (vide cartaz).
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Qual o limite da vaidade?

Essa questão é subjetiva o bastante para soar retórica, porém relevante durante todo o filme.

Ninfabebê leva o público ao limite entre a empatia à protagonista ou um tapa na moleira desta média-adolescente. Ainda, perturba enquanto alerta o público mais conservador (pais/responsáveis que subjugam as ações virtuais da prole) e cutuca o púbere de que, na verdade, o teatro da vida virtual, em algum instante, salta a tela para ferir ou massagear a carne e a mente.

Entre cada capítulo, do início lolitizado, passando pelo suspense, ao ápice de terror destrutivo do final, #ninfabebê sugere que tudo se passa ao vivo e aflora o sentimento voyeurista no espectador contemporâneo, enquanto o mais conservador se sentirá curioso, porém absurdamente perturbado. O diretor não quer agradar a tia católica que foi ao cinema ver a performance da sobrinha debutante no cinema. Aquele deseja polemizar sobre o rio de vaidades que transborda nas redes sociais, sem medir diálogos nem imagens.

A história se passa no interior da casa de Cibele, a Ninfa Bebê do título, adolescente púbere que, ao lado da amiga Daiana, planeja uma noite de diversão sem limites, auditada instantaneamente pelos seguidores virtuais do alter ego da protagonista.

Os olhos do espectador se limitam pela visão da tela do celular de Cibele (você vai entender quando assistir ao filme). Somos ao mesmo tempo os olhos da protagonista, personagem e testemunha dos acontecimentos.

Após adotar e coagir a pupila Daiana a participar desta saga auto-destrutiva, a diversão inicial toma ares de suspense/terror quando Cibele resolve incluir novos personagens no convescote, a fim de levar a diversão ao clima lúdico alçado sob entorpecentes e álcool. Reviravoltas descolam a diversão pseudo-libidinosa para contornos dramáticos. A auto-promoção virtual deságua no drama real, afligindo as protagonistas violentamente.

Cibele segura o espectador com sua libido aflorada e sugestiva, sem ultrapassar os limites da classificação etária do filme. Daiana se destaca da metade em diante de #ninfabebê. O espectador já não coaduna dos valores de Cibele e teme pelo desfecho da amiga pueril face às desventuras provocadas pela auto-destrutiva ninfa bebê. Ambas convencem com atuações assertivas. Os demais personagens cumprem seu papel sem arriscar o destaque das protagonistas, infligindo à Déia, a ex-namorada do pai de Cibele, para o papel de antagonista da estória.

Cessando a crítica antes de incorrer em spoilers, #ninfabebê consegue cumprir com a promessa de expor os excessos da exposição virtual, onde apenas a própria consciência e valores pessoais podem limitar a saturação da própria imagem.

O diretor não acaricia o ego moralista do público médio brasileiro, acostumado com desfechos doces e mastigados, típicos das estórias brasileiras contadas nas teles, congeladas e requentadas ano após ano. Se prepare para ser provocado ao cruzar pela primeira vez com olhar verde da ruivez de Cibele, até a última paulada na moleira.

O limite da vaidade é um mundo sem espelhos.

- Ninfa Bebê (#ninfabebê), Brasil, 2016
- Diretor: Aldo Pedrosa
- Elenco: Dandara Adrien, Giovana Almeida, Rodrigo Chagas, Rita Monteiro, Rafael Ferreira, Mayron Engel, Anderson Ued, Edgar Junior, Guilherme Martins
- Review: 4/5

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Um Novo Passado - Duas Lágrimas

São apenas duas lágrimas...uma para cada partida...

UM NOVO PASSADO

Na vida de Alan, ex-policial, solteiro, debaixo dos seus 40 anos, o arrependimento ressoa nas paredes vazias de criatividade, no pequeno espaço que habita na capital do tudo. Há algo do passado, ou do futuro, que o incomoda, aborrece, sugando o sono imprescindível à boa rotina. O desejo de voltar no tempo não é mera ficção. Sobre teus ombros, é uma necessidade. Não há bela liv ou rosa que nia em prosa ou poesia a entreter tua rotina. Há apenas a sindicância mental, gratuita e imutável da vida virtual que precariamente traga a vida real.

Quando teve a chance, falhou. De que vale as mãos trêmulas se o trabalho cobra a precisão letal? Vale a vida de um gênero em prole, fatalmente alvejada durante aquele assalto. A bala derradeira zarpou da mão frouxa do trouxa, não o vigarista, mas o deficiente. O hospedeiro bem vindo é forte, e sob os olhos deste estão as vias onde sucumbe Alan, numa vigília mesquinha e ignorante, fadada à ruína. Em outras palavras, o pentelho sanguessuga abandona a anfitriã no instante final, sob e finalmente tornar-se cidadão.

Dias assim alteram drasticamente o modo como vive um homem, ainda mais Alan, fraco e bêbado de oxigênio, etanol torrado em oito por cento de lúpulo e cevada. Processado, largou o emprego, e hoje trabalha como segurança num pub de rock, tornando-se um homem irritado, mal humorado e de raros amigos. Todos os dias o mesmo pesadelo zela pelo teu sono e, ao deitar-se, imagina-se sacando a espada na direção que devia, atravessando o peito devido.

Caminhando pela casa, num desvio de olhar, imagina ter visto um corpo sobre cama. A covardia o impede de conferir à segunda vista, e Alan segue sua rotina.

Numa manhã, na companhia do jornal diário, sua atenção é desviada para a quina da página: “Vendem-se Memórias: um novo passado por poucos trocados. Agende sua consulta”.
Quais as chances de Alan sacar a arma e matar o assaltante? Num novo passado, ele poderá nem sacar a arma.

Alan, levanta-se rapidamente, pega o jornal, e corre ao orelhão. Correndo pela rua quase é atropelado. Corre quatro quarteirões e chega ofegante ao telefone. Ao pegar o fone e discar percebe que já tem alguém do outro lado da linha.

Alan permanece em silêncio por alguns segundos enquanto a pessoa do outro lado pergunta:
__ Estranha: Alô? Quem está aí?
__ Alan: Alô?
__ Estranha: Quem fala?
__ Alan: Meu nome é Alan...eu...você ligou aqui?
__ Estranha: Sim, você está na frente de um bar não está?
__ Alan: Sim, quer que chame alguém lá dentro?
__ Estranha: Sim, o nome dele é Thiago.
Alan entra no bar e pergunta por Thiago. Ao ver o rapaz, reconhece seu rosto. Não há como esquecer o drama exaltado pelo garoto na mídia, e absurdamente sugado até o bagaço pelas mais prolixos oradores populares. É o filho da mulher que Alan matou. Alan desvia o olhar e sai do bar. O rapaz sai, e nota o telefone solto no ar. Thiago atende o telefone.
__ Thiago: Alô?
__ Estranha: Sou eu. Você o viu?
__ Thiago: Sim. Estou tremendo. Nunca imaginei que o veria, frente a frente.
__ Estranha: Não se preocupe. Ele sabe quem você é. Ele deve estar atordoado agora.

Alan está assustado e, ainda ofegante, caminha pela rua. Passa em frente a uma praça, atravessa o gramado e senta-se num banco. Pega o celular, e liga a cobrar para o número na propaganda.
Milos, atende o telefone.
__ Milos: Previsões e Revisões, Milos, bom dia Alan.
Milos está numa sala. Em sua frente, um notebook, onde se vê a imagem de Alan e informações pessoais do novo cliente.
__ Alan: Mas, como você sabe?
__ Milos: Isso importa? Nos vemos às 13h30, tudo bem para ti?
__ Alan: Oras, por mim tudo bem.
__ Milos: Previsão ou revisão?
__ Alan: Como?
__ Milos: Você quer prever o futuro ou corrigir o passado?
__ Alan: Corrigir o passado, eu...
Milos interrompe Alan:
__ Milos: Consultas apenas ao vivo. Aguardo-te às 13hs.
__ Alan: Hei! Ao menos diga seu preço.
__ Milos: Não se preocupe. O valor não importa no seu caso.

Milos desliga o telefone. Alan olha para o celular, a chamada durou exatos 02:12:03s. Alan sorri ao ver os números, mas logo fecha o semblante e olha para o alto.

Lembra-se do depoimento no gabinete policial, olhando fotos do assalto que não evitou e a data em destaque do dia do assalto: 02/12/2003, a terça-feira maldita.

Alan descendo do ônibus, segurando o jornal com uma mão e o celular com outra, procurando o endereço. Encontra um portão estreito, com a placa informando que ali mora o Milos. Alan abre o portão. O corredor é longo e em curva. Alan entra, anda pelo corredor. È possível ouvir um leve zumbindo, num tom grave aumentando enquanto Alan aproxima-se do portão no fim do corredor.

Alan bate no portão e um garoto, de aproximadamente 03 anos atende. Alan entra e ao olhar para trás vê um garoto de aproximadamente 08 anos terminando de fechar a porta, com roupa semelhante a do primeiro garotinho. Alan sorri com deboche, imaginado a cena como um truque bobo do vidente para confundir os clientes.

Ao passar por uma cortina deparasse com Milos, um homem pouco calvo, com roupas indianas. Alan se senta. Um relógio solar sobre a mesa indica que são 13h32. Alan olha seu relógio e por instante pensa ter visto seu relógio regressar.

__ Alan: Bom dia..meu nome é Alan..eu..
Milos, com um leve sorriso, interrompe Alan:
__ Milos: Por favor Alan, ligue a TV.
Alan olha para os lados, procurando a TV. Ela está no alto. Alan levanta-se e liga. Está passando UHF, filme de 1989. Na cena um homem diz: “Armas não matam pessoas, eu Mato”. A TV sai do ar. Alan nota a câmera que certamente grava tudo o que ocorre na sala de Milos.
__ Milos: Sente-se Alan. Me conte: o que quer mudar no teu passado?
__ Alan: Você realmente pode mudar o passado?
__ Milos: Claro que não.
__ Alan: Não compreendo. Sua propagando diz...
__ Milos: Não mudo o passado. Conserto sua mente. Apago fantasmas. Não mudaremos seu passado, apenas enganaremos sua consciência. Me conte algo simples e infantil que gostaria tivesse um rumo diferente, e lhe darei um exemplo.
__ Alan: hum... a minha primeira lembrança drástica. Eu, numa sala de aula, com uns 4 anos de idade, com minha roupa de Supermam...

Alan se lembra da cena, com 4 anos, na frente da sala cheia de crianças com roupas comuns, apenas Alan vestido de Superman.

__ Professora: Venha aqui Alan. Hoje não é dia de vir de Super Herói. Vamos trocar essa roupa.

Alan se levanta correndo como se voasse e pula do lado da professora. A professora tira uma roupa do armário da sala e começa a tirar a roupa de Alan em frente à classe. As crianças começam a cochichar e rir. Alan tímido, lacrimeja.

__ Milos: É algo simples de mudar Alan. Basta que você não troque a roupa na frente da sala, é isso? Você não teria esse...pequeno trauma na vida, não é?
__ Alan: Você pode mudar isso?
__ Milos: Deite-se aqui.

Alan levanta. Milos o acompanha até um colchão no chão. Milos se agacha e faz um desenho com tinta vermelha na testa de Alan, que adormece.
Alan lembra da cena. Na classe infantil, mas no momento em que a professora começa a trocar a roupa de Alan, ele cochicha em seu ouvido.

__ Alan: Tenho que ir no banheiro.
__ Professora: Tudo bem Alan, eu te acompanho. Comportem-se até eu voltar crianças.

Alan desperta.
__ Alan: Muito bem, e agora.
__ Milos: Me conte sobre sua infância, quando você foi à aula vestido de Superman, você se lembra?
__ Alan: Mais ou menos, lembro que tínhamos o “Dia dos Super heróis”, e eu sempre era o Superman. Teve uma vez que fui com roupa de herói no dia errado e tive que trocar de roupa na escola. A professora queria que trocasse na frente de todo mundo, mas eu pedi pra ir ao banheiro só pra não trocar na frente da classe.
__ Milos: Venha cá.

Milos liga a TV. A imagem mostra a sala onde estão. Na TV, Alan está conversando com Milos, contando a história da classe. Alan levanta-se assustado. Alan não se lembra da cena.
__ Milos: Nós mudamos essa passagem na sua vida.
__ Alan: Não é possível! Acabei de me deitar. Não foi assim que aconteceu, eu lembro claramente...
__ Milos: Sim. Agora, a partir de hoje, foi assim que aconteceu Alan.
__ Alan: Você mudou meu passado?!!?
__ Milos: Não é bem assim...
__ Alan: Me lembro que troquei de roupa no banheiro, e não na frente de todos. Isso é impossível!
__ Milos: Foi isso que mudamos.
__ Alan: Não é possível. Você me hipnotizou. Nunca contei esta história assim!
__ Milos: Acalme-se Alan. Sente-se. Vamos conversar. Você se lembra por que resolveu me procurar? Conte-me. Qual fato do seu passado você realmente quer mudar.

Alan se senta à mesa. Milos se senta do outro lado. Alan conta a história do assalto trágico, sob lágrimas, tremendo, atordoado pela chocante cena de sua imagem no vídeo contando a história de forma diversa da que se lembrava.

__ Milos: Você gostaria de mudar esse fato?
__ Alan: Sim...gostaria de..ter agido diferente...ter tido..mais cuidado..fui impulsivo...fui estúpido. Tentei ser herói, mas não tinha talento para tanto. Hoje, se pudesse, teria tremido menos, respirado fundo...acertado o tiro bem no meio da testa daquele cara...
__ Milos: Alan, os detalhes não me importam. Você quer reviver este momento e agir diferente. Eu lhe proporcionarei isto. Mas adianto a você que a sua vida atual não vai mudar. Garanto-lhe apenas limpar tua consciência do peso que te aflige. Os efeitos externos a isso não são de minha responsabilidade.
__ Alan. Se você me garante minha mente livre dos pesadelos, digo que quero mudar essa memória.
__ Milos: Deite-se aqui Alan.

Recomeça todo o procedimento. Alan deitado enquanto Milos faz um desenho com tinta vermelha em sua testa. Alan adormece. Uma voz rouca sussurra palavras que soam como um hino nacional declamado.

__ Milos: Desperte Alan.

Já é fim de tarde e, chegando em casa, Alan vê o relógio. São 18h20. Alan ficou o dia todo fora. Alan para na porta, olha para trás, o sol se pondo. O relógio da torre marca 18h19.

Alan, acorda para mais um dia de trabalho. Veste seu terno e gravata pretos. De relance, o corpo estirado na cama lhe parece mais nítido. Sua covardia continua patente. Ao fim da noite de trabalho, recebe o pagamento. Alan olha o relógio, são 5h20. Alan dirige-se para o ponto de ônibus próximo.
O 1º ônibus surge. Alan entra. Ao chegar em sua casa, deita-se com a mesma roupa que chegou da rua, sentido-se mais cansado do que outros dias. Ainda esta escuro. Sob o som de Pearl da Bjork, os pensamentos se confundem, sua mente mais atordoada do que nunca, confunde a realidade, sonho, pensamentos e fatos.

Alan se vê afogando, tentando recuperar o ar. Desperta ansioso e ofegante, mas sente-se bem, suspira de alívio, cantarolando canções de improviso. O relógio ao lado da cama denuncia o marasmo que é sua vida. É segunda-feira. Ao menos hoje não irá trabalhar. São 18h. Talvez tenha dormido o dia todo.

Seu celular toca:
__ Alan: Alô?
__ Thiago: Olá, meu nome é Thiago.
__ Alan: Sim, em que posso lhe ajudar?
__ Thiago: Hum, você já se matou hoje?

Alan desliga o telefone assustado. Olha pela janela, e vê uma pessoa, parecida aquele Thiago, filho de Alva, a mulher morta pela bala torta de Alan. Thiago está conversando com uma mulher na rua. Thiago olha direto para Alan, e segue seu caminho, acompanhado pela mulher.

__ Thiago: Mãe, ele não me reconhece. Cruzei com ele no pub, ele cruzou os olhos comigo, mas não teve reação alguma.
__ Alva: Isto é bom. Sinal que Milos conseguiu.
__ Thiago: E agora, o que faremos?

Alva se distancia de Thiago até a casa de Alan.
__ Alva: Agora...é comigo.

Alva toca a campainha.
__ Alan: Alva, o que você faz aqui? Quanto tempo. Nossa! Como você está? Não te vejo desde...desde...não me lembro bem...desde quando Alva?
__ Alva: Desde o julgamento dos amigos daquele cara no assalto, você lembra. Você me salvou, atirou no assaltante e depois, você sumiu. Afastou-se do trabalho. Teus superiores disseram que você estava em depressão. Por fim, descobri que largou o trabalho, o que faz agora?
__ Alan: Sou segurança num pub. Realmente, foi uma fase difícil, acho que não suportei o fato de ter matado outra pessoa, mesmo que tenha sido um bandido.
__ Alva: Tudo bem. Você deixou este mundo melhor. Hoje eu e o Thiago estamos aqui por sua causa, por sua culpa. Devemos tudo a você.

Alva sorri. Alan, apenas desvia o olhar.

__ Alan: Eu fiz o que tinha que fazer. Gostaria de entrar?
__ Alva: Não. Vim apenas para dizer que estou na cidade. Poderíamos nos encontrar para conversar qualquer dia. Tem muitas coisas que eu gostaria de te contar.
__ Alan: Seria um prazer.
__ Alva: Ok então. Até mais.
Alan e Alva se despedem. Alan entra.
Um carro para na porta de Alan. Alva entra no carro. Um homem de terno preto dirige. Thiago está no banco de trás.
__ Alva: Ele não estava lá.
A carro se afasta e estaciona em frente à casa de Milos. Thiago também desce.
O veículo retorna e estaciona na frente da casa de Alan. Alan sai, olha o relógio. São 17h02.

Alan entra no veículo.
__ Alan: O que esta acontecendo? Por que demorou tanto?
__ Motorista: Alva e Thiago foram para a casa de Milos.
__ Alan: Eles estão lá neste instante?
__ Motorista: Sim.

Alan pega uma arma no porta-luvas do carro e coloca na cintura. O carro para novamente em frente à casa de Alan. Alan desce.
__ Alan: Obrigado por tudo, você foi um bom homem.
__ Motorista: Uma mão lava a outra não senhor Alan.

Alan olha para o relógio do painel do carro. São 16h50. Alan entra na casa. A casa está toda bagunçada, como se alguém tivesse revirado cada espaço.
__ Alan: Droga…o que houve aqui!

Alan agacha. Mexe no chão. Levanta uma parte do assoalho. Dele, retira um envelope com um pendrive, que guarda no bolso. Passa na cozinha, abre a geladeira, toma um suco e morde um pedaço de sanduíche gelado. Entra num quarto. Um homem está deitado, ensaguentado, aparentemente morto. Alan aproxima-se do homem e o vira. O homem é o próprio Alan.
Alan sai de casa com um leve sorriso no rosto. Um relógio analógico está  marcando 16h39.

Na casa de Milos, Alva e Thiago estão deitados em colchões no chão enquanto Milos faz desenhos com uma tinta vermelha na cabeça dos dois.

Milos pronuncia palavras que remetem ao contexto do assalto.
Em sua mente, Alva se recorda, tal como se entrasse em seu sonho. Está numa piscina, relaxando, quando ouve um grito. Alan está se afogando. Alva pula na água para tentar salvá-lo. Alan com os olhos abertos fita diretamente Alva, que tenta puxá-lo. Assustada, Alva desperta chorando e novamente se deita.

Alan está saindo de casa, pegando o ônibus com um jornal na mão. Desce na casa de Milos e segue pelo corredor. Enquanto caminha, ouve um zumbido grave. Alan bate na porta. Uma criança atende, aproximadamente 10 anos, usando as mesmas roupas da primeira vez que Alan esteve com o vidente. Ao entrar, a porta é fechada, Alan olha para trás. Um homem de aproximadamente 20 anos está fechando a porta.

Alan olha para o chão. Alva e Thiago estão deitados. Alan entrega o pendrive para Milos.
__ Alan: Milos, acho que finalmente funcionou. Estava tudo revirado. Mas não encontraram nada, aqui está. Havia um corpo na cama, eu estava na cama, finalmente.
__ Milos: Alva e Thiago pensam que você não se lembra de nada. Alan, você o matou?
__ Alan: Sim, de certa forma. Ele está morto.
__ Milos: Me deixe terminar o que comecei. Você esta livre agora. Não há outra cópia destes vídeos. Por mais que sua história agora seja uma ficção, as imagens podem gerar confusão se divulgadas. Não quero me tornar uma atração de circo meu amigo.
__ Alan: Mas existe mais alguém procurando por isso. Reviraram tudo. Quem pode ser.
__ Milos: Se houver alguém, ele vai te encontrar, e você sabe o que fazer. Agora, você é Alan, totalmente. Foque no seguinte. Se você não se lembra, não aconteceu. Você salvou a vida de Alva e Thiago. É isso que quem o procura está pensando.
__ Alan: Espero que tenhas razão Milos. Por um segundo, fiquei preocupado. Vou voltar para casa. Vou arrumar tudo e…me livrar do corpo.

Alan chega em casa. O relógio da casa marca 15h30. Alan liga para Milos.
__ Alan: Alô? Cara, o que eu faço com o tempo?
__ Milos: O tempo é uma ficção, ignore-o.

Alan vai até o quarto. Não há corpo algum lá. Alan se agacha na sala e abre o esconderijo no assoalho. Não há nada ali.

Alan desmaia, ao acordar, pega o jornal sobre a mesa. Sua atenção é desviada para a quina da página: “Vendem-se Memórias: um novo passado por poucos trocados. Agende sua consulta”.

Alan pega o celular. Liga para o número que está na memória, a cobrar.
__ Milos: Previsões e Revisões, Milos, bom dia Alan.

Alan desliga o telefone.

Alan se vê na sala de Milos que, na frente de um computador, vê a imagem de Alan e alguns dados. Milos tem um pendrive acoplado ao laptop e acessa os documentos, abrindo um arquivo de vídeo. Milos copia o arquivo para uma pasta, onde se vê outros tantos arquivos, numerados, com o nome de Alan: "Alan visita 1...visita 2...visita 3". São milhares e milhares de arquivos.

Alan está na casa de Milos, numa consulta, contando uma história, a seguinte história.
__ Alan: Meu nome é Alan. Quero consertar minha vida, apagar meus erros, ser uma nova pessoa. Quero um novo passado.

Milos abre outro documento. A imagem do vídeo mostra Thiago e Alva em consulta com Milos. A data do vídeo aponta para 02/12/2003. Alva esta segurando uma foto. Na foto a imagem de Alan e Alva, ainda grávida. Alva está em prantos enquanto conta uma história. Thiago a consola.
Milos olha para o relógio do laptop. São 13h35. Milos sorri. Milos fecha o laptop enquanto se prepara para um próximo atendimento.

Alguém bate à porta. Uma criança de pelo menos 3 anos atende. Alan entra enquanto é possível ver a criança crescendo enquanto fecha a porta. Alan olha para trás e vê um garoto de aproximadamente 8 anos fechando a porta. Alan se senta. Um relógio solar sobre a mesa indica que são 13h32. Alan olha seu relógio e por instante pensa ter visto seu relógio regressar um minuto.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

IMORTAL, A ORIGEM DO TEMPO, por Leo Pajé e Rodrigo Sansão

A origem do tempo

Capítulo I - começando pelo fim

Kud, imortal com medo da morte, morre de tédio.

Estes são seus primeiros e conhecidos anos, pois ninguém sabe exatamente de onde veio, e desde quando passeia pela história. Há uma tristeza disfarçada de coragem suicida em seus olhos, e isto o liberta das responsabilidades do homem comum, quais sejam, retribuir, sorrir, pensar além do próximo passo e, no fim, lamentar as possibilidades perdidas pois, o tempo não existe para ele...tudo pode ser feito...seja agora...seja amanhã...seja quando...pois, o tempo não existe.

Há um lar sem paredes descoberto a pouco tempo, onde o vasto campo, ou deserto, ou sal, se confunde com o horizonte e engana os mais e os menos desavisados. Há incoerência no frio que queima no deserto de sal. Não é liberdade nem prisão, não é o limite nem infinito, é só areia temperada, sal, mar e terra. A mesma que engole corpos desligados, sementes latentes, e vomita brotos nutritivos e purificantes para os devoradores de ar.

Kud pensa que seu nome é um anagrama limitado. Um soluço ou espirro soariam mais sentido, mais lógica que sua curta alcunha. Tinham pena do tamanho de seus pés, que desequilibravam sua anarquia e pendiam seu colo contra seu umbigo, algo imensamente desconfortável para um homem com o tamanho médio de 10% da humanidade.

De baixo de seu calado cúmplice, um giz preto torrado pelo raio a poucos dias, descreve o tédio dos dias úteis, que para ele não carecem de nome algum. Para Kud, a diferença não está no batismo dos dias, meses, semanas, números e números cardinalmente dispostos e cantados há tempos pela humanidade. Para Kud, importa a temperatura, a velocidade do vento, a umidade da nuvem, se vai chorar turbilhões descolorindo seu céu e sua areia, ou se o azul minimalista vai dar as caras.



Foie grass na berlinda

O porquê de eu concordar com as granjas, tal como o artigo da Carta Capital.

http://www.cartacapital.com.br/revista/768/foie-gras-na-berlinda-2575.html#comment-1067836869

Hum, meu instinto humano onívoro me obriga a lutar pela vida me alimentando de carne e vegetais. Meu excesso modernoso e evolutivo me obriga a buscar sabor e prazer no excesso de opções a suprir essa necessidade básica. A condição cômoda libera o pecado capital, que assume as rédeas e atrela a busca pelo prazer à todos os outros sentidos humanos, de tal maneira que não basta saciar e abastecer o corpo de combustível para se mover por aí. O prazer olfativo, visual e degustativo toma par da situação. Não preciso caçar para comer; posso "produzir" minha própria comida, seja ela colhida dum quadro gigante e monótono (vide as 'infinitas' plantações que tomam parte donde deveriam haver florestas ricas bilionárias em variedades de plantas), seja ela um amontoado de pernas idênticas vivendo mais do que viveriam a céu aberto, com abundância de alimentação e em maior número do que sua raça jamais cogitou na face da Terra.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Um par de anos depois

Órfão, advogado, pseudo-matrimoniado e acampado na capital do tudo, revogo as férias de idéias e cá estamos, novamente na 2ª pessoa do plural, diante da mono-audiência deste blog, para debulhar opiniões e críticas fundadas unicamente no meu alter ego e sua opinião crítica sobre tudo.


Sejam bem vindos...e até daqui a pouco.
encontrado

sexta-feira, 20 de abril de 2012

O DIREITO À SAÚDE E A CULTURA DO QUE É DIREITO

2012, ano bissexto, ano de olímpiadas, ano de debute em viagens internacionais e, o ano da saúde. Tendo voltado a nutrir meus inícios de noites com exercícios físicos, e preocupado com o bem estar da perpétua matriarca e responsável pelo ar que rouba dia após dia, resta pontuar o que se passa neste início de ano.

A ordem ainda é uma incógnita na minha vida, ser ou não ser advogado, eis a questão...hum. Escolhi ser, porém, o ser não me escolheu ainda.

Sobre a saúde da matriarca do meu feudo, estou orgulhoso por tudo correr como deveria, apesar dos percalsos. Hoje, 20/04/20012, diante da burocracia e da má vontade da invocada saúde pública do estado de Minas Gerais, vi a da dona Perpétua incomodar a mediocracia dolosa dos institutos da saúde e, discretamenta, mostrar que conhece os meios para buscar o que lhe é de direito, quais sejam, o meio jurídico. Quando viu seu pedido de exame negado por não ter ainda resposta do órgão que autoriza tal exame, ela pediu que esta negativa fosse dada por escrito, a fim ter lastro, não tácito, mas expresso, para buscar seus direitos junto à Promotoria da Saúde, no Ministério Público. Prontamente, os próprios agente que lhe negavam o exame interagiram e solucionaram o imbróglio, permitindo que o exame fosse realizado. Ouviu-se ainda de um dos agentes que, caso lhe dessem documento expresso da negativa do exame, este poderia ser usado juridicamente, o que prejudicaria a clínica.

A busca pelo direito à saúde deve ser usada e abusada. Não vamos esperar que alguém perca o dedo no pronto socorro de um hospital privado devido ao atraso na quitação do plano de saúde, ou cartão de crédito sem limite, ou que aquele acometido de câncer não realize o tratamento à tempo porque "o sistema está fora do ar".

sexta-feira, 10 de junho de 2011

MELHORE A REALIDADE...VIRTUALMENTE FALANDO


Em tempos de rotinas elaboradas, mas tão comum quanto há 4 anos..a virtualidade melhora a realidade. Seja on line, ocupado, invisível ou off line, o colo do notebook é mais confortável que o cigarro barato e a cerveja quente da balada...e a ressaca é postagem desbocada no blog..e não um soluço arranhado de cigarro e cerveja.

Isto não é regra, é claro. Os ares no conforto do lar se renovam mais lentamente que no vasto mundo da calçada e o corpo cobra um passeio com o cão filósofo, solução menos trágica para cessar a fissura pelo ar difuso da calçada.

Enquanto o celular não toca e traz a carne pesada para fora de casa, a boa vida virtual faz as honras e, recheada de piadas de humor negro e jargões contemporâneos, ocupa as horas encurtadas antes do sono. De duas horas, notam-se apenas alguns minutos...o resto foi-se sem notar, horas e horas desperdiçadas ou aproveitadas?...vai saber