sexta-feira, 8 de agosto de 2008

A CASA MALFEITA DA CULTURA

Não sou arquiteto nem engenheiro civil, mas ouso criticar o que me salta aos olhos. Em 2002, o governo do DF resolveu continuar obras originais do projeto Piloto de Brasília. Faltavam, dentre outros, a construção da Praça da Cultura, localizada entre a rodoviária e a Esplanada dos Ministérios. Daí, de repente, na boca do sapo nasce um dente, e 6 anos depois, durante visita breve e apressada, vejo a praça da Cultura tatuada na cidade. Estão ali a Biblioteca Nacional e Observatório (bolha pálida gigante com arco panorâmico sobre a praça).
Apesar de opinião batida, pois tudo já foi exposto a respeito deste projeto e sei que não trago opinião inédita, eis meu ponto de vista. Impossível ficar passivo diante da grandiosidade, beleza, e ineditismo do projeto piloto. A cidade é a materialização da boa vontade e ousadia de um cidadão acima de seu tempo e flagelado com defeitos reluzentes, homem fundado na filosofia do ‘faça a todo custo’. Imaginem sacos de cimento trazidos às pressas por aviões. Exagero organizado, efeitos sentidos até hoje, ou melhor, ontem, pois a dívida foi finalmente paga.
Atualmente, existem projetos gigantescos de construção de cidades sistematicamente organizadas, quais sejam: ilhas no oriente médio, paraísos auto-sustentáveis, e tudo mais. Brasília foi uma das primeiras obras do gênero no Brasil e exemplo mundial. Algumas cidades, dezenas de anos mais velhas, não possuem estrutura minimamente próxima a da capital federal.
Projetos estruturais deveriam ser regra em planos de governo, vide a organização numerada de cidades médias tais como Araraquara e Sertãozinho, no interior de São Paulo, e Nova Ponte, no Triângulo Mineiro. Estas cidades sofreram correções e remodelamentos que trouxeram, principalmente, organização e dinamismo ao trânsito local.
Mas o que lastreia a crítica à nova construção? Comparada às obras originais, feitas nos anos 60 sob a supervisão cerrada de JK e respeito cru ao projeto de Niemeyer, se nota que os artistas atuais não apuraram a técnica centenária do velho arquiteto e nem tiveram supervisor da linhagem de JK.
Não cabe aqui criticar, ainda, a falta de zelo do arquiteto quanto ao calor do cerrado e ventilação dos prédios, nem a dívida findada apenas 50 anos depois.
A beleza lisa do concreto da cidade não brotou nas novas obras. O arco do observatório é claramente torto, quase ridículo, e levemente inclinado. Não fui cuidadoso o suficiente a ponto conferir o projeto original e analisar a fidelidade da obra atual ao projeto histórico mas tenho certeza que, observado os contornos das construções sessentistas, as obras atuais deveriam ter curvas mais suaves e exatas.
A biblioteca nacional perece sob o mesmo descuido da outra obra, com arcos agressivos e cores que maldizem o resto do eixo monumental.
O que há nas duas novas obras é tamanho, magnitude, e só isso. Não há a beleza cuidadosa dos prédios prediletos da capital.
Falo como mero cidadão crítico que admira a beleza da cidade e lamenta cicatrizes num centro de poder e cultura do país.
Rodrigo Resende

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